Ultrajano Eu tive sorte de ter sido educado conhecendo a riqueza da cultura nordestina através da música e da arte.
Algumas de minhas canções carregam muito desse povo maravilhoso.
Há alguns anos, os mestres Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga me proporcionaram uma experiência inesquecível dentro da sala de aula.
No tempo em que lecionava música e arte, sempre gostei de "viajar" pela, poesia, literatura, matemática, ciência, filosofia, geografia e história.
Eu trabalhava oficineiro na Educação Integral em um projeto social incrível chamado Cidadão de Futuro e nesse dia estavamos fazendo a apreciação do clássico Asa Branca.
O método consiste em ouvir a canção de forma coletiva e propor uma reflexão participativa dos alunos sobre o que a letra diz, numa espécie de "escuta musical".
Lá pelas tantas, perguntei o que eles haviam entendido sobre os versos "Que braseiro, que fornalha/Nem um pé de plantação/Por falta d'água perdi meu gado/Morreu de sede meu alazão".
Depois de alguns minutos, um menino de 11 anos que estava sentado no "fundão" levantou o braço.
Jamais me esquecerei de suas palavras.
"Professor, a música tá falando da seca que castiga o Nordeste. Meu vô veio pra São Paulo e conta pra gente que lá não tem água porque os dono das terras não quer. Eles quer que o povo precise deles" (sic).
Olhei para ele, engoli seco e segurei a emoção.
Minutos depois
desabei a chorar dentro carro, no trajeto para o almoço em casa.
Não de tristeza, mas de alegria por ter sido testemunha de que a arte é uma poderosa semeadora de conhecimento, libertação e esperança.
Viva Ariano, Raquel, Patativa, Vitalino, Joana, João Ubaldo, Arlete Salles, Regina Dourado, Wilcker, Wagner, Lázaro, Belchior, João Donato, Caymmi, Sivuca, Jackson, Dominguinhos, Antônio Nóbrega, Gil, Hermeto, Caetano, Gal, Elba, Bethânia, Daniela, Margareth, Alcione, Brown, Geraldo, Amelinha, Vital, Pepeu, Baby, Moraes, Chicos Anysio, César e Sciense, Alceu, Zé Ramalho, Raul, Lenine, Zeca, Humberto, Gonzagão, e tantos outros irmãos.
Que sejam celebrados não somente neste dia tão especial.
Mas que a arte porreta do Nordeste continue nos salvando de nós mesmos.