A idade nos permite enxergar a vida de outro modo.
Por anos convivemos com a angustiante preocupação do "o que os outros irão pensar".
E os próprios anos nos trazem algumas certezas.
A primeira é a de que todos nós somos humanos, capazes de atitudes maravilhosas e outras não tão virtuosas assim. Isto porque o ser humano é falível. E neste caso, nem sempre o que pensamos sobre alguém, ou aquilo que uma pessoa pensa sobre nós pode ser tomado como verdade.
Cada um carrega dentro de si dramas e conflitos indizíveis. Este olhar de 'empatia' tem relação direta com uma mudança de postura sobre a vida: a troca da expectativa pela perspectiva. Ambas podem até 'soar' iguais, mas não são.
A expectativa nos torna reféns do imediatismo sobre algo que pode ou não acontecer. Já a perspectiva requer uma visão equilibrada e de maior amplitude acerca de determinadas situações. Quando conseguimos distingui-las, a vida torna-se menos complicada. Todavia não é uma tarefa fácil.
Pessoas entrarão e sairão da nossa vida. Poucas permanecerão. E essas ficarão até o fim porque nos conhecem. Estarão por quem somos. Os conflitos são inevitáveis, ocorrem por inúmeras razões e muitas vezes somos responsáveis por eles. Outras, não.
Porque certas pessoas desconhecem o que encontramos pelo caminho e os motivos pelos quais não correspondemos às suas expectativas. E quase sempre nos julgam de acordo com a sua própria conveniência e interesse. Pior que a 'régua' moral de seu julgamento é a sordidez de suas atitudes, quase sempre imorais, desleais e antiéticas. Desejam o que temos porque jamais conseguirão nos roubar a essência.
Guarde bem esta regra: não se permita carregar sozinho a bagagem que pertence a outro. Trata-se de saúde mental.
A segunda certeza é a de que jamais poderemos oferecer amor a alguém sem antes nos amarmos.
Existe uma dificuldade imensa para compreender isto. Algumas pessoas viivem as suas vidas dedicando-se integralmente aos outros. Menos a elas próprias. E por várias razões. Desde a necessidade de um cuidado especial a uma determinada situação ou até mesmo uma atitude de autopunição por acharem-se indignas de serem cuidadas.
Tudo não passa de uma tentativa frustrada de controle, cujo pano de fundo é o medo de que a sua fragilidade seja revelada. Creem que a dureza da vida lhes impôs a sentença de não poderem ser amadas. É a forma que encontraram para enfrentar a dor.
A ironia reside no fato de que depois de um tempo descobrimos que nunca controlamos coisa alguma. E o tempo? Ah, o tempo escancara o que é preciso. Ele cuida de descontrolar tudo à nossa volta para que, a partir do 'caos' a gente reaprenda a viver. É um longo caminho a ser percorrido.
Porque a cura acontece pelo amor, que só pode ser sentido e vivido com verdade e intensidade.
Por fim, depois de um tempo, não queremos mais ter razão sobre tudo, e sim apenas sentir "a pequena porção de paz" sobre todas as coisas.
O mesmo tempo é sim o melhor companheiro neste trem doido que chamamos de vida. Meu irmão sempre diz que ele é "um santo remédio". Claro, provocador que sou evoco a máxima de Paracelso.
"A diferença entre o remédio e o veneno está na dose".
Quando a compreendemos nos libertamos.