14/08/2022 às 11h05min - Atualizada em 14/08/2022 às 10h59min

OS AMORES (*)

Para "seo" Alfredo e Guilherme

Fredo Júnior

Fredo Júnior

"Pessoas feridas são perigosas. Elas sabem que conseguem sobreviver." (Josephine Hart).

Fredo Júnior
Arquivo pessoal
Confesso que a ideia de ser pai me apavorava.
 
Apesar do “test drive” com os sobrinhos agregados, eu ainda carregava um caminhão de dúvidas. Coisas do tipo "como é que eu vou amar uma criança ou que sentimento é este?"
 
Nada mais era do que o medo do desconhecido.
 
Em meados de novembro de 2000, eu fui privilegiado com um sonho estranho. “Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais.” Era o recado de que alguém estava chegando. Guardei a anunciação em meu coração.
 
Dois meses depois, o medo e o sonho deram lugar a uma gostosa loucura. A notícia de que uma pessoinha estava a caminho causou uma revolução dentro de mim.
 
Tão logo comprovada, lembro-me de ter ido contar aos meus pais.
 
Minha mãe, claro, ficou emocionada e preocupada. Era uma época difícil. Eu estava sem “emprego fixo”, trabalhando apenas como músico.
 
Meu velho pai, com os olhos marejados, disse apenas que tudo ia dar certo.
 
A primeira consulta ao obstetra, as batidas do coração registradas numa fita microcassete, o exame de ultrassom mostrando o pintinho do bebê, a compra dos móveis e a reforma da casa.
 
São as memórias que guardamos no coração.
 
No dia dez de agosto, uma sexta-feira, às 8h10, Guilherme deixou a proteção da mãe e bradou a sua chegada ao mundo.
 
Chorei com a dona Odete no hospital.
 
Mas faltava contar a novidade e chorar com o outro homem mais importante da minha vida.
 
Meu pai estava em casa terminando um serviço. “Teu neto nasceu, Fredão!” Nos abraçamos e choramos.
 
Três dias depois eu comemorei o meu primeiro dia dos pais com o meu pai e o meu filho.
 
Como não ser grato?
 
Guilherme possui o doce e estranho poder de me fazer chorar, rir, refletir, lutar, mas principalmente, de renovar a minha fé.
 
Ele me faz acreditar que fui escolhido para ser abençoado com a sua presença. Aprendo muito mais do que penso ensinar. Ele é a razão pela qual a caminhada, apesar de todas as adversidades tornou-se diariamente prazerosa.
 
Ele é o milagre traduzido em vida. A prova material, incontestável e definitiva do amor do mistério que a minha alma insiste em chamar de Deus, por mim.
 
Depois dele consegui entender o meu velho pai.
 
Sua preocupação em não errar e o seu modo esquisito de conversar.
 
Seus medos, falhas, limitações, jeitão ranzinza, mas acima de qualquer coisa, o seu desmedido amor e dedicação em tornar o meu caminho mais feliz.
 
Neste Dia dos Pais de 2022, eu confesso que ainda tenho medo.
 
Ser pai é uma aventura e tanto.
 
Tento ser para Guilherme um pouquinho do que o velho Fredão é para mim. Não é tarefa fácil. Nesta arte ele sempre será mestre.
 
E eu?
 
Bem, eu sou iluminado pelos sóis dos amores do meu pai e do meu filho.
 
Com eterna gratidão e amor.
 
(*) Atualização do texto escrito no dia dos pais de 2007.
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