IstoÉ Carlos Alexandre Azevedo tinha pouco mais de um ano de idade quando seus pais, a pedagoga Darcy e o jornalista Dermi Azevedo foram presos pela equipe do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), comandado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, sob a justificativa de serem simpáticos à Esquerda e ao campo progressista da Igreja.
No dia da prisão da mãe, o menino Carlos teve um dente quebrado, levou choques, foi brutalmente torturado e atirado ao chão, provocando ferimentos em sua cabeça.
A família sobreviveu. Dermi e Darcy tiveram outros três filhos, mas Cacá nunca se recuperou.
Em 2011, aos 37 anos, teve reconhecida sua condição de vítima da ditadura e recebeu uma "indenização".
Trabalhava com computadores, mas nunca conseguiu livrar-se do trauma causado pela violência de um regime nefasto e cruel.
No dia 16 de fevereiro de 2013, Carlos pôs fim ao seu sofrimento.
Abaixo, a triste e comovente carta escrita por seu pai, Demir.
“Meu coração sangra de dor. O meu filho mais velho, Carlos Alexandre Azevedo, suicidou-se na madrugada de hoje, com uma overdose de medicamentos. Com apenas um ano e oito meses de vida, ele foi preso e torturado, em 14 de janeiro de 1974, no DEOPS paulista, pela "equipe" do delegado Sérgio Fleury, onde se encontrava preso com sua mãe. Na mesma data, eu já estava preso no mesmo local. Cacá, como carinhosamente o chamávamos, (...) nunca mais se recuperou. Como acontece com os crimes da ditadura de 1964/1985, o crime ficou impune. O suicídio é o limite de sua angústia.
Conclamo a todos e a todas as pessoas que orem por ele, por sua mãe Darcy e por seus irmãos Daniel, Estevao e Joana, para que a sua/nossa dor seja aliviada. Tenho certeza de que Cacá encontra-se no paraíso, onde foi acolhido por Deus. O Senhor já deve ter-lhe confiado a tarefa de consertar alguns computadores do escritório do céu e certamente o agradecerá pela qualidade do serviço. Meu filhinho, você sofreu muito. Só Deus pode copiosamente banhar-te com a água purificadora da vida eterna."
Enquanto edito este texto, publicado originalmente pelo professor Chico Alencar, sou tomado por uma forte crise de choro.
É impossível não sentir a mesma dor nele relatada.
Mas o meu pranto carrega o lamento de muitas dores.
Dentre elas, o da doentia ignorância em negar que exisitiu uma ditadura assassina no Brasil.
E pior, em nome da liberdade e da democracia, defender a sua volta.
Triste.