22/08/2019 às 18h53min - Atualizada em 22/08/2019 às 18h53min

NÓS VAMOS INVADIR A SUA PRAIA

"A ignorância não fica tão distante da verdade quanto o preconceito." (Denis Diderot).

Fredo Júnior

Fredo Júnior

"Pessoas feridas são perigosas. Elas sabem que conseguem sobreviver." (Josephine Hart).

Baseado na matéria de Alexandre Putti, no site Carta Capital em 22 ago 2019.
Fredo Júnior
Mato Grosso Mais
João Pessoa (PB).

Terça-feira, vinte de agosto.

Moradores do Cabo Branco, bairro nobre da cidade procuraram a vereadora Helena Holanda (PP), uma das autoras do projeto “Praia Acessível”,  iniciativa digna de aplausos, que promove a inclusão de pessoas com deficiência e as leva para participarem de atividades com música e esporte na orla da praia.

Mas não se tratou de uma ação de apoio ao projeto.

Pelo contrário.

O 'incômodo' dos moradores se deu 'por se tratar de área ilustre da cidade, lugar de pessoas bem criadas e que a orla do Cabo Branco foi criada por pessoas de renome e que o projeto não estaria trazendo um 'quadro belo' para a vizinhança.'

Em outras palavras, quiseram impedir o acesso dessas pessoas ao local.

Holanda manteve-se firme, e garantiu que o projeto não será retirado do local em hipótese alguma, e que, caso as pessoas estivessem incomodadas, podiam se mudar para outro bairro. Segundo ela, o programa será ampliado.

E o mais importante, a parlamentar vai oferecer ao Ministério Público a denúncia de discriminação de moradores contra os deficientes. 

Certamente o episódio causa repulsa.

Mas não se trata de algo isolado.

O preconceito de quem ocupa "a ponta da pirâmide" sempre existiu.

Retrato de um país onde a 'classe dominante' nunca admitiu dividir o mesmo espaço com os que não tem "sangue azul". Exceto no período eleitoral, onde os plebeus são utilizados convenientemente como massa de manobra. E o pior de tudo é  que ajudam a manter o reinado que os esmaga dia após dia. 

Ancorada no discurso de ódio, segregação e exclusão do atual mandatário da nação, a elite perdeu de vez a vergonha de mostrar a sua cara e o que pensa sobre quem não transita em seus quintais.

O título da crônica é uma oportunidade para relembrar um grande sucesso do rock brasileiro dos anos 80, que trata, mesmo que sutilmente, das diferenças sociais.
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