31/05/2019 às 23h02min - Atualizada em 31/05/2019 às 23h02min
VAL E O VÉIO DO LAQUÊ
“Os preconceitos são a razão dos imbecis.” (Voltaire)
Fredo Júnior
Na recente entrevista de Roberto Justus à colunista Mônica Bergamo, da Folha, o empresário e apresentador destilou um pouco mais de sua peculiar arrogância e preconceito.
Ao comparar a ex-presidente Dilma Rousseff a uma faxineira, o dono da versão brasileira de O Aprendiz não desrespeitou a petista. Ele ofendeu a todas as mulheres e profissionais que não fazem parte de sua classe social. “Ela não sabe nem falar, quanto mais presidir um país. Ela é uma piada de mau gosto. Eu não contrataria a Dilma Rousseff para ser faxineira da minha casa, porque acho que ela não entenderia onde precisa limpar, de tão ruim”, declarou Justus.
A forma que utilizamos para nos referirmos a uma pessoa diz muito sobre quem somos. Roberto disse muito mais sobre si e o que pensa a respeito de uma faxineira do que o juízo de valor acerca de Dilma, a quem quis ofender com o tom da preconceituosa comparação.
A profissão de faxineira é tão digna como qualquer outra. Talvez até mais do que a dele próprio. O ranço de Justus é um exemplo do que de fato pensa a elite brasileira. Ela odeia a possibilidade do pobre freqüentar os mesmos lugares que ela, e pior, olhá-la de igual pra igual.
Elite que é objeto de uma primorosa crítica em "Que Horas Ela Volta?", filme de Anna Muylaert e protagonizado pela atuação arrebatadora de Regina Casé, no papel da empregada doméstica Val. Ele trata da quase sempre preconceituosa relação entre patrões e empregados. Coincidentemente assisti no mesmo dia da repercussão sobre a infeliz frase do empresário.
Apesar do enorme esforço empregado para negá-lo, o fato é que o conflito de classes existe. E é o responsável pela construção da desigualdade social no país.
Quanto ao “véio do laquê”, o horror do Holocausto sofrido por seus antepassados parece não ter sido suficiente para que ele pudesse compreender que todos são iguais.