31/07/2022 às 18h09min - Atualizada em 31/07/2022 às 18h05min

Defendam as nossas mulheres! Quando o debate sobre a questão do respeito ultrapassa o âmbito do universo feminino

Do jugo da sociedade patriarcal de herança colonialista, a luta pela sobrevivência contra diversas formas de violência no tempo presente.

Michele Rocha

Michele Rocha

Michele Rocha é professora de História, coordenadora pedagógica no ensino público e mestre em Empreendedorismo.

Michele Rocha
“A vida das mulheres no Brasil colônia era bem diferente da nossa. Elas viviam exclusivamente sob a tutela dos pais, depois passavam a ser propriedade do marido, devendo comportar-se como santas. Viviam reclusas em casa, dedicando-se apenas a família. De lá para cá, muita coisa mudou. As mulheres conquistaram o direito de votar, tomaram pílula, queimaram sutiãs, tornaram-se chefes de família e ocuparam cargos de alto escalão. Essas foram mudanças difíceis”. (Histórias e Conversas de Mulher. Mary Del Priore-1 ed. – São Paulo: Planeta, 2013).
 
É indiscutível que o papel da mulher em nossa sociedade atual ganhou uma maior representatividade em diferentes setores, reunindo muitos motivos para celebrar conquistas e avanços nos percalços vivenciados pela população feminina desde épocas passadas, na busca por igualdade de direitos.
 
Basta realizar uma pesquisa simples em obras literárias ou autores de referência, como Priore citada acima, que se especializou no estudo da vida privada à época do Brasil colônia, ou artigos na internet, para se obter exemplos que o machismo estrutural era bastante arraigado no pensamento e na cultura daquela sociedade.
 
Novos tempos deveriam significar como via de regra, novas mentalidades e novas percepções e visões de mundo. Todavia, há muito ainda o que se aprender, debater e discutir. Os acontecimentos recentes denotam evidências a esse respeito.
 
Observem leitores, os fatos vinculados na mídia e que tem se tornado infelizmente acontecimentos rotineiros, tornando evidente que a luta das mulheres para não serem vistas como meras “propriedades”, ainda continua.
 
Certos comentários invasivos dirigidos e elas, demonstram que para uma parcela da população masculina, sugestionamentos abusivos disfarçados de elogios, reafirmam a necessidade que alguns homens tem de impor a sua tal “masculinidade” ao se virem no direito de fazer convites sexuais, comentários sobre o corpo feminino, falas impregnadas de machismo, entre tantas outras coisas que nós mulheres precisamos lidar todos os dias.
 
É possível imaginar e tentar sentir a dor alheia, quando ouvimos relatos de mulheres que foram violentadas, tiveram sua intimidade exposta e ainda são julgadas pela tomada de decisões que deveriam caber somente a elas.
 
Ou ainda, tantas e tantas vítimas de violência doméstica e feminicídio, banalizando todos os dias a importância da vida, culpabilizando muitas vezes a vítima e sofrendo o peso da ausência do rigor das nossas leis.
 
Na maioria das vezes, o agressor sai impune e a mulher cada vez mais inibida de ir contra o assédio, de não aceitar ser violada já que sabe que seus motivos serão sempre questionados, sofrendo duas vezes o abuso, quando é ultrajada por ele e quando tem de provar que não foi culpa dela.
 
De todos esses exemplos recentes, um ainda pior, se é que é possível mensurar ou qualificar a gravidade desses crimes, foi o das mulheres estupradas no momento mais sagrado de suas vidas que é o de trazer uma nova vida ao mundo.
 
Esse caso levou a discussão e ao debate sobre os diversos aspectos envolvidos nessa questão, sendo o mais importante deles a falta de segurança a que mulheres são acometidas em diversas situações e a fragilidade da punição para esse e outros tipos de crimes contra a mulher.
 
O que está acontecendo com a humanidade? Vivenciamos tempos realmente críticos.
 
A imprensa vem se posicionando a esse respeito e tem sido comum nas entrevistas em programas de TV e rádio, podcasts, perfis e páginas na internet, até mesmo os próprios homens denunciando determinadas situações e se declararem efetivamente contra qualquer tipo de ato que fira os direitos constitucionais e morais das mulheres. É um importante avanço, considerando que há cada vez menos espaço no mundo moderno, para falas recheadas de preconceito, intolerância e mesmo de ignorância.
 
Há de se considerar, porém, que ainda existe uma grande lacuna entre o dizer e o se concretizar, haja vista que a quebra de paradigmas e tabus que remontam tempos longínquos, levam um tempo para transformar mentalidades outrora consideradas normais e assim eticamente aceitas. 
 
Daí a importância da educação para a contínua e necessária evolução da humanidade, bem como leis mais rígidas e profissionais qualificados para as executarem a contento.
 
Assim sendo, só teremos motivos reais para comemorar todas as conquistas duramente alcançadas por tantas mulheres exemplares, quando também essas mulheres não forem mais mortas a sangue frio, invadidas, exploradas, desrespeitadas e desmerecidas. 
 
Apoie e defenda nossas mulheres brasileiras, determinadas e guerreiras, não porque é o politicamente correto ou pela opinião de que são frágeis, mas sim porque é o justo e simplesmente porque merecem como qualquer outro cidadão protegido pela Constituição brasileira.
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