(Cartas de Lucíola retorna em uma nova roupagem, uma coluna mais madura, assertiva e por que não mais audaciosa? Lucíola convida seus leitores a também trazerem suas histórias para serem contadas aqui). Queridos leitores, depois de uma longa pausa, estou eu aqui de volta.
Senti muita falta de escrever.
Não sei se posso culpar como quase todo mundo faz, a pandemia por esse intervalo, mas o fato é que foi um período que tirou mesmo a gente daquele “velho lugar comum” e demoramos para voltar a nos ajustar novamente a alguma rotina.
Durante esse tempo “quarentei” e também como quase todas as mulheres (rs), passei por aquela já esperada crise dos quarenta e trabalhando remotamente, saindo poucas vezes, as reflexões acerca dessa fase de transição, sobrevieram com maior intensidade.
Superado esses primeiros pensamentos, alcançando novamente a calmaria proporcionada pela retomada do chamado “novo normal” e findando assim o período mais sério da pandemia, passei a ter melhores condições de apurar mais objetivamente meus sentimentos e cheguei à conclusão que há tantas coisas mais importantes na vida do que o apego ao fator “números” e idade biológica.
Daí por esses dias assisti a uma propaganda muito interessante da atriz Andreia Beltrão para uma conhecida marca de cosméticos, em que ela dizia que muitas pessoas próximas a ela ou mesmo desconhecidas, teciam aquele famoso elogio disfarçado de preconceito, comentando sobre a sua idade:
- Nossa Andreia, você tem 58 anos? Mas você está ótima. E que a reação dela era agradecer, porém, intimamente pensava: - Mas então como eu deveria estar? Péssima, porque tenho quase 60 anos? E a conclusão da sua fala era de que elogio acompanhado de “mas” não é verdadeiramente um elogio.
Comentários e opiniões como essas, abrem espaço para diálogos sobre questões culturais presentes ainda em nossa sociedade, de que a mulher que passou dos 40, 50 ou mais, devem se conformar com no mínimo aparentar estar bem, “apesar de...” Passou da hora de desconstruirmos determinados conceitos, não é mesmo?
É um fato mais que evidente que nós mulheres, hoje, nos sentimos muito mais livres para assumirmos nossa idade e todo o aparato de vivências trazidas com ela, simplesmente porque podemos sentir orgulho de nossa história e por conquistarmos o direito a nossa independência, o que inclui cuidarmos da nossa beleza, espiritualidade, intelectualidade, desenvolvimento emocional e profissional e tantas outras dimensões que assim desejarmos, pois se trata de livres escolhas.
Por que então se prender a comportamentos e expressões estereotipadas, principalmente se tratando de idade cronológica?
Prefiro eu, em se tratando de idade, lembrar da homenagem construída em forma de música, do eterno rei Roberto Carlos, que versa sobre as mulheres que chegaram aos 40 anos, mas com muita beleza e mais ainda, orgulho e dignidade.
“Não quero saber da sua vida, sua história, nem do seu passado, mulher de 40 eu só quero ser, o seu namorado...” Mais ou menos como se dissesse que estamos vivendo o hoje e é o que realmente importa, não é verdade?
Engraçado que quando eu ouvi pela primeira vez essa música (sim, eu era fã de um cantor da velha guarda, mesmo sendo adolescente), eu me imaginada aos 40 anos e no auge dos meus 16 anos na época, acreditava piamente que seria já uma mulher velha nessa idade. Mal sabia que na verdade estaria vivendo o ápice da minha estabilidade e quando me refiro a palavra estável, quer dizer estou colocando no topo da minha lista de prioridades a autoaceitação, peça chave e fundamental para uma vida plena e bem vivida. Isso é chamado também de maturidade.
Chamo aqui a atenção das minhas leitoras para que se assumam verdadeiramente, pode ser um processo lento e as vezes dolorido, mas vale a pena. Mas também não tenho pretensões de ser uma “coach sentimental” ou mesmo de lições de autoajuda, já que aliás, não tenho a mínima paciência para esse tipo de leitura.
Falo mesmo das minhas próprias experiências e se lhes forem úteis de alguma maneira, já me sentirei motivada.
E se porventura, seja você homem ou mulher, pensar em elogiar alguém, especialmente quando a temática for idade, elogie apenas.... o elogio sem ser precedido pelo “mas”. Você não incorrerá no risco de ser mais um chato(a) que ainda faz comentários do tipo que já não fazem sentido para a realidade que vivemos.
Beijos e até a próxima história que eu viver ou criar na minha imaginação de personagem de livro...de uma Lucíola!