22/11/2019 às 00h01min - Atualizada em 22/11/2019 às 00h01min
AS MÚLTIPLAS FACES DA INTOLERÂNCIA COLETIVA
A rede mundial está agora infestada de alimentadores de mentiras e intrigas; os caluniadores que destroem reputações alheias e querem o retrocesso civilizatório a qualquer preço
Jorge Alves de Oliveira (*)
Dicio Vivemos momentos difíceis.
Conflitos políticos, étnicos, religiosos e ideológicos, são travados na vida real e virtual. Todos eles tendo como mote o aniquilamento do “outro”. “Cale-se caso não concorde comigo”. É a frase imperativa predileta do momento.
Os seres humanos estão frustrados, cheios de agressividade e revanchismo, e assim, com o ego ferido elegem-se os culpados. Pode ser qualquer coisa ou qualquer um.
A postura desagregadora e belicista nos canais de debates da internet (Facebook, Twitter, WhatsApp) tornou-se evidente, vem permeada com o mantra do “direito à liberdade de expressão”.
Com este “mantra”, pode-se ofender, humilhar e jogar fora o emprego de décadas, o cliente de décadas, amizades cultivadas ao longo de anos, relações familiares e afetivas.
Vivemos agora em um universo onde tudo é preciso discutir, refutar, “desconstruir”, replicar, treplicar e avançar contra quem quer que seja. Este texto e seus interlocutores confirmarão o que agora digo.
Basta ligar o computador e lá estará seu o “inimigo”, pode escolher e dar o “start” em sua cegueira. Quantos problemas adquiridos por causa de uma simples digitação impensada?
Não adianta apagar a postagem indigesta. Na rede tudo é replicado e pulverizado em segundos, para delírio da plateia “ávida por sangue fresco”.
É desanimador perceber que as redes sociais, que vieram para unir pessoas e estender as fronteiras do intelecto humano, tornaram-se abjetas, repugnantes a partir do momento em que as pessoas resolveram escancarar o seu verdadeiro “eu”.
E que horror este “eu” tem se mostrado!
Nelson Rodrigues disse certa vez que “Se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava”.
Hoje, por causa da internet não existe mais as “quatro paredes”. Tudo se tornou claro, nu e cru. O escândalo é de domínio público e ninguém está livre da imoralidade; aquela imoralidade guardada por anos na intimidade dos lares e da vida das “pessoas de bem”.
A rede mundial está agora infestada de alimentadores de mentiras e intrigas; os caluniadores que destroem reputações alheias e querem o retrocesso civilizatório a qualquer preço.
Triste descobrir por conta de uns poucos “likes”, que aquele bom amigo ou vizinho que convive com você cotidianamente, é favorável ao assassinato dos gays, dos ateus, dos tucanos, dos petistas; é favorável à volta da ditadura militar ou que “bandido bom é bandido morto”.
Em que lugar no passado ficou perdido o nosso senso de decência e humanidade?
Precisamos mesmo desfigurar o outro só por ele ser filiado ao PT ou ao PSDB; por ser nordestino, ateu, Cristão, gay, negro, branco, gordo, magro, rico ou pobre?
Nas redes sociais até podemos “deletar”, aniquilar e desaparecer com aqueles que não toleramos, na vida real, não. É crime!
(*) Professor efetivo da rede pública estadual e Mestre em Educação pela Unesp/Rio Claro