É uma longa história essa dos profissionais da saúde. Do rótulo do voluntarismo herdado dos primeiros tempos nos idos do século 19 com enfoque na benemerência até os tempos atuais com a integração do Estado com a sociedade civil, vemos que o setor da saúde evoluiu muito como mercado, mas muito pouco quando refletimos as condições dos profissionais da saúde.
E por muitos anos levamos para as autoridades da área, para os administradores hospitalares e para a sociedade, a necessidade de um olhar mais atento para aqueles que fazem o setor funcionar de forma ininterrupta, por 24 horas. São enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, profissionais da área administrativa e também do apoio.
A valorização destes profissionais era, e continua sendo, uma premissa para a evolução de todo o sistema de saúde. E por valorização entenda-se um conjunto de medidas que vão desde a educação continuada até a efetiva melhoria salarial desses trabalhadores que são linha de frente para manutenção da saúde da população e setor produtivo do Brasil.
E se analisarmos o setor como mercado, vemos que ele cresceu e se transformou. Os grupos privados internacionais dominam cada vez mais a Saúde brasileira. Um processo que começou há uma década e que cresce dia após dia. Haja vista a recente união entre Hapvida e Intermédica e a chegada da Rede D’Or que juntas somam mais de R$ 100 bilhões em valor de mercado, fazendo com que ambas estejam no seleto grupo das 15 maiores empresas na Bolsa de Valores.
Mas voltando a falar em valorização, a perspectiva era que a chegada destes grupos pudesse contribuir para a valorização do setor, não apenas como mercado, mas também para a evolução dos profissionais que atuam na área.
E aquele intento das lideranças sindicais de buscar a valorização dos trabalhadores da saúde, acabou de certa forma frustrada. Os grandes grupos de saúde não trouxeram a devida valorização perseguida pela categoria. Com maior poder de barganha, esses grupos se adequaram ao mercado, quando não impuseram a redução de direitos que consideraram vantajosos para o negócio. Com exceções, a exemplo dos profissionais médicos e alguns cargos administrativos, a categoria continua estigmatizada, trazendo ainda nos ombros o peso do voluntarismo de dois séculos passados.
Além das condições salariais, as condições de trabalho são ruins e preocupantes. Sim, temos a falta de investimentos adequados no setor que faz com que os hospitais não consigam equipar adequadamente os estabelecimentos, mas também temos, em muitos casos, uma péssima gestão dos recursos.
Ademais, quando se trata da renda dos profissionais que atuam na área vemos, mais uma vez, uma vergonhosa distribuição de renda no setor.
E é assim que a pandemia pelo Sars CoV 2 encontrou essa legião trabalhadores. Sem salários e sem condições de trabalho adequados.
Temos só no Estado de São Paulo mais de 700 mil trabalhadores na área da saúde somente nas esferas particular e filantrópica. Computados os profissionais da rede pública, esse número, no mínimo, duplica. E é essa legião de profissionais que está à frente da guerra travada para combater a pandemia provocada pelo coronavírus.
Mais de um ano se passou. O sofrimento é muito grande para esses trabalhadores. Muitas vidas perdidas e muitas enfrentando as sequelas da Covid-19 contraídas no ambiente de trabalho. É uma batalha que está longe de ser vencida, mas que é enfrentada com galhardia por estes profissionais da saúde, independente do setor que atuam. A população entende o esforço da categoria e aplaude o seu esforço, profissionalismo e dedicação.
Nós, que somos os representantes dos profissionais da saúde, temos de enfrentar uma odisseia junto aos estabelecimentos de saúde e órgãos governamentais em busca de melhorias que façam justiça aos trabalhadores.
Para levar de forma mais ampla a campanha da valorização dos profissionais da saúde, a Federação Paulista da Saúde criou a campanha “Salário digno é o melhor aplauso”.
A campanha será levada em todos os estabelecimentos de saúde dos 13 sindicatos filiados à Federação estando eles em campanha salarial ou não, pois não existe tempo certo para se valorizar os trabalhadores que doam suas habilidades e suas vidas em prol do Brasil.
Buscaremos também o apoio da população para as nossas lutas e reivindicações, dentre elas o direito ao adicional de insalubridade em grau máximo (40%) e aprovação da jornada de 30 horas e do piso salarial para a categoria.
Após mais de 20 anos de tramitação de diversos projetos de lei em defesa do piso salarial e de jornada de 30 horas de trabalho para profissionais da enfermagem, o Senado Federal se prepara agora para colocar em votação o PL 2564/2020. Este projeto de lei conta com apoio da maioria dos parlamentares no senado, mas enfrenta a oposição dos setores privados da saúde.
Precisamos da sensibilidade da população, enviando mensagens aos deputados e senadores pedindo a aprovação do projeto de lei.
Precisamos e contamos com o apoio da Câmaras municipais criando moções de apoio à luta dos profissionais da saúde.
E precisamos da mobilização desses trabalhadores, de forma a garantir este primeiro passo efetivo rumo a uma maior valorização de todos os profissionais que trabalham diuturnamente em prol da saúde de todos os brasileiros.
O melhor aplauso que podemos pedir a todos é a valorização por meio de condições dignas de trabalho e salários.