Neste ano de 2020, a vida de quase todos os seres humanos do planeta Terra virou de cabeça para baixo e, com certeza, o motivo é de conhecimento geral: a pandemia do novo coronavírus que atingiu praticamente todos os países do mundo. E, em meio ao caos, as empresas precisaram de imediato se reorganizar, reinventar ou, como se costuma dizer, "se virar nos 30". Seja para sobreviver à crise ou mesmo às novas oportunidades que se ampliaram a determinados segmentos de produtos e serviços.
Da mesma forma, as pessoas tiveram de rever seus hábitos e mudar seus costumes diários, sobretudo no que se refere à necessidade de maior controle de higienização contra o vírus SARS-CoV-2 ou ao distanciamento social, igualmente imposto por ele. Em razão disso, um dos grandes protagonistas do novo normal chama-se álcool líquido ou álcool em gel 70º. Desde então, a pergunta que se ouve muito é: esse protocolo de higienização veio para ficar?
Conforme indica o médico infectologista Fabiano Ramos, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre (RS), e líder de uma das fases da pesquisa dos testes clínicos da vacina contra a Covid-19, a CoronaVac, o costume de uma melhor higienização em geral deverá realmente se tornar uma rotina permanente entre todos e não somente dos profissionais de saúde. “O álcool tem uma ação tão boa quanto à higienização com água e sabão e as pessoas levam menos tempo para fazer a limpeza das mãos, por exemplo, se utilizarem o produto”, comenta o especialista. Ele chama a atenção ainda de que este tipo de produto sempre foi utilizado nos ambientes hospitalares, seja para o uso de higienização dos médicos ou de superfícies.
Perante tais mudanças impostas pela nova realidade, muitas empresas não tiveram perspicácia ou mesmo condições de permanecer no mercado, porém outras tantas se agilizaram e de fato seguiram e se fortificaram, inclusive já registrando um ano de crescimento tanto na produção quanto no faturamento. Entre elas, por exemplo, empresas com produtos voltados ao segmento de higienização, como as que produzem álcool e álcool em gel. Desta forma, do dia para a noite, com o aumento exponencial na demanda por esses produtos, indústrias que produzem um dos itens mais procurados em 2020 tiveram de redefinir sua forma de trabalhar com a finalidade de atender a demanda que estava posta.
E este foi o caso da gaúcha Industrial Boituva de Bebidas, fabricante, entre outros produtos, de diferentes tipos de álcool e álcool em gel, que teve de expandir a fabricação desses insumos em tempo recorde. “Reestruturamos rapidamente as áreas de produção, comercial e de logística da empresa para conseguirmos atender de forma célere e com excelência aos clientes devido ao crescimento da demanda”, comenta Nelson Hoefel, gerente Comercial de Logística e Marketing da Boituva.
Desta forma, a Boituva contratou mais funcionários bem como dobrou os turnos de trabalho para dar conta dos pedidos no Rio Grande do Sul, iniciando também o abastecimento do mercado de Santa Catarina, suprindo a procura de álcool 70º nos estabelecimentos de varejo daquele estado. Logo, com esse incremento, no primeiro semestre de 2020 a fabricante registrou alta na produção e no rendimento da linha de álcool Pronto Socorro, chegando ao percentual de 270% em faturamento e 179% em volume de vendas. No ganho total da empresa, o álcool passou de 16%, em 2019, para 38% até o momento, em 2020. E a carteira de clientes da indústria cresceu 35% desde março.
Conforme evidenciou Hoefel, a Industrial Boituva está investindo ainda na ampliação de seu portfólio de álcool. Entre as novidades estão as fragrâncias de Lavanda, Canela e Eucalipto no Álcool Etílico Hidratado 46º INPM com embalagem de 1 litro. “A proposta do lançamento dos aromas foi proporcionar ao consumidor final uma transformação na experiência do uso do álcool líquido para limpeza, oferecendo algo mais agradável na utilização doméstica”, explica o gerente Comercial de Logística e Marketing da Boituva.
Já, desde o final de 2015, bem antes da pandemia, a empresa tinha, em parceria com outra indústria, autorização da Anvisa para produzir tanto o álcool 70º líquido como o 92º líquido. Isso, porque para a elaboração do álcool nestes graus é necessária permissão do órgão, assim como para a venda, anteriormente ao novo coronavírus, que era específica para hospitais, instituições ou empresas que possuíam anuência para adquirir o produto. Com a disseminação da doença, a partir de meados de março deste ano, a Anvisa liberou a comercialização do álcool Pronto Socorro em supermercados, minimercados e farmácias, porém, com a data limite, até o momento, de 18 de março de 2021 para a venda deste tipo de álcool ao consumidor final. Entretanto, se a previsão de término desta determinação se confirmar, o médico infectologista Fabiano Ramos observa que, por enquanto, não é possível saber o que substituiria esta formulação com igual eficácia de higienização na eliminação do SARS-CoV-2.
Em razão disso, Hoefel acredita que haverá uma queda significativa na comercialização do álcool líquido após o vencimento da RDC (Resolução de Diretoria Colegiada) da Anvisa. Com a proibição do álcool 70º líquido, avalia ele, a tendência é que apenas uma parte do consumo migre para o álcool 46º. Este grau não elimina ou mata o vírus que é o principal motivo para aquisição / comercialização do álcool.
Logo, diz o gerente Comercial de Logística e Marketing da Boituva, a expectativa da empresa é crescer de 15% a 25% em relação ao ano anterior, após o final da RDC. “Uma parte se deve ao álcool gel, que continuará a ter sua venda liberada.” Porém, evidencia ele, na produção, apenas as empresas com autorização ou classificadas como “produtoras de cosméticos” poderão produzir o álcool gel para mãos. “A outra parte é que esperamos ganhar mercado com a diversificação de produtos no 46º líquido. Para isso lançamos novas embalagens com fragrâncias de lavanda, eucalipto e canela”, explica o executivo sobre a estratégia de lançamento de novos produtos.